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This piece was based on a poem by João Sousa

Está frio, é tarde
E, por entre a neblina da floresta,
Chora sentando no alpendre um velho.


Na transparência da lágrima que, lentamente, desliza pelo seu rosto,
Percebe que nunca chorou.


Balança na cadeira.


É sozinho com o vento:
Uno com uma liberdade desconhecida.


A afincada realidade que não viveu fere-lhe um corte no braço e dele jorram sementes.
 

Chora por não ter colhido flores.
Devia ter plantado rosas,

Mas ficou-se por pétalas azuis que nunca viu crescer.
 

Balança uma segunda vez.
 

Sufoca no sentimento de traição - vê agora que foi seu próprio abandono.
Reza uma última oração ao deus que nada lhe ensinou
E congela na dor das palavras que não disse.

 

Fecha os olhos e balança uma última vez.
 

Sofre sentando no alpendre um velho.
Ainda hoje caminhará à sepultura,
Num passo largo e pesado de ave que nunca voou.

                                                                     

(05.01.18)

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