José Brandão
Composer
This piece was based on a poem by Cláudia Pires
Eclipse da Auto-Degradação
A boa aparência ausenta,
espelho-me baça numa Lua,
e de qualquer adereço nua
vejo-me com olhos de tormenta.
Trata-se da sombra derradeira,
refletindo a minh’alma distorcida
e que a essa Lua lhe suga a vida,
inescrupulosamente traiçoeira.
O sabor da doença a mim me cura,
não ao Astro que agora jaz morto,
é culpa minha, Embrião de um Aborto,
que emana escuridão crua.
Tenho tripas de decadência;
assino acordos com a desilusão,
sou quem a vida não dá perdão
pois me cinge à existência.
Individa-me o perdão ao Astro,
peco e perco pela atrocidade
que me murcha na flor da idade,
içando-me a culpa num mastro.
São inutéis; desculpas tardias,
só eu sei como me dói
o fado que o interior me corrói,
esse fruto das reflexões sombrias.
Ouvide, meu Candeeiro de Rua,
só para mim guardarei as oscilações,
e a ti te peço mil perdões
pela minha indecência obscura.
Finalist at BSP Composition Competition.